Projeto promovido em parceria entre a UFRN e o IERC abre possibilidade para que alunos agucem sua percepção
Lamonier Araújo // Especial para o Diário de Natal
lamonieraraújo.rn@dabr.com.br
Já imaginou assistir a um vídeo feito por alguém que não vê? A ideia pode parecer estranha, mas para os membros do Instituto de Educação e Reabilitação de Cegos do Rio Grande do Norte (IERC-RN) produzir vídeos já se tornou uma prática diária, dentro das atividades oferecidas pela instituição. Dos oito participantes que integram o núcleo de audiovisual da instituição, cegos e pessoas com baixa visão mostram, a cada novo produto, muito trabalho e boas ideias.
As atividades voltadas para o audiovisual surgiram a partir de um projeto de extensão desenvolvido pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), que tinha como proposta promover oficinas de Teatro e Fotografia no IERC-RN. O idealizador do projeto, o professor Jeferson Fernandes, percebeu que as atividades poderiam ter continuidade mesmo após o fim das oficinas. Foi então que, em 2007, o projeto participou de um edital promovido pelo Ministério da Cultura e acabou se tornando o Ponto de Cultura Evidência Cultural, com sede localizada na própria Instituição. A partir de 2008, foram desenvolvidas inúmeras atividades no Ponto de Cultura dentre elas, as oficinas de fotografia e de vídeo que favoreceram a criação do núcleo.
Katiene Pessoa, coordenadora do Ponto de Cultura Evidência Cultural, falou que após as oficinas, os próprios membros da equipe sentiram a necessidade de dar continuidade às atividades e aprimorar ainda mais as técnicas, independentemente de suas limitações. Foi então que os membros criaram a comissão de audiovisual, na qual os alunos cegos ou com baixa visão tiveram a oportunidade de produzir no campo do audiovisual, seja na elaboração dos roteiros, na produção dos vídeos ou na seleção de imagens.
"Eles aprenderam, durante as oficinas, que é possível realizar as atividades usando outras formas de registros sensoriais, como a audição e o tato. Durante as gravações, são divididos em duplas (geralmente um cego e outro com baixa visão) e ao final do processo, eles se apresentam com grande entusiasmo, mostrando que de fato o objetivo do projeto foi atingido", destacou Katiene Pessoa.
Renato Maia, responsável pela comissão do núcleo de audiovisual do IERC-RN, informou que atualmente seis alunos e dois voluntários participam das atividades desenvolvidas pelo núcleo, que vai desde a produção de curtas-metragens à cobertura de eventos da instituição. A comissão já produziu até o momento quatro vídeos, sendo um institucional, um telejornal e dois curtas sobre a vivência diária dos alunos, onde eles tiveram a oportunidade de mostrar as suas histórias de vida.
Equipamento não sofreu adaptações
Em relação ao aparato técnico da instituição, Renato esclareceu que durante as gravações eles utilizam algumas funções sonoras que já existem nas câmeras convencionais, sem ser necessário uma adaptação dos equipamento. Com isso, os membros da comissão conseguem identificar o início e término de uma gravação, o momento que a imagem é aproximada ou distanciada do objeto, dentre outros recursos. "Ainda não descobrimos um programa de edição com funções sonoras para que os próprios alunos possam editar. Enquanto isso, eles acompanham o processo de seleção das imagens, onde informam os trechos mais importantes das gravações" ressaltou.
Para o Presidente do IERC-RN, Marco Antônio da Silva, a realização das oficinas de produção em vídeo fez com que os membros do instituto aprendessem a enxergar com os olhos da percepção e da compreensão, que vai muito além da visão comum. Durante as atividades, os alunos descobrem que a exclusão social é apenas um mito que pode e deve ser quebrado durante a realização das atividades. Ele também afirmou que não conhece outra instituição no estado que realize um trabalho ou tenha um núcleo de audiovisual protagonizado por cegos ou pessoas de baixa visão.
Exibições
A comissão do núcleo de audiovisual do IERC-RN já teve seus trabalhos exibidos no estado do Ceará e pretende retomar as suas atividades em março de 2011, seja na produção de novos vídeos ou na cobertura de eventos paralelos que ocorrem na instituição. É importante ressaltar que em cada novo projeto, cegos e pessoas com baixa visão se alternam para que nenhum participante deixe de ter a oportunidade de conhecer o processo de produção audiovisual.
Contato
Instituto de Educação e Reabilitação de Cegos do Rio Grande do Norte (IERC-RN)
Renato Maia, responsável pela comissão do núcleo de audiovisual do IERC-RN
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