O universo da fotografia surpreende a cada
possibilidade de um novo olhar, principalmente, quando esse olhar conta com a sensibilidade
do toque e a acuidade da audição.
Foi assim que alunos do Instituto Dr. Hélio Góes,
instituição pertencente à Sociedade de Assistência aos Cegos do Ceará, e da
E.E.F.M. Instituto dos Cegos puderam conferir a exposição Olhar do Coração, da
artista Jaquelina Rolim, na última sexta-feira (19), no CUCA da Barra do Ceará.
Com as mãos curiosas sobre as informações
transcritas para o sistema Braille e os contornos em alto relevo de cada
fotografia e com os ouvidos atentos às descrições das imagens repletas de cores
vibrantes de uma natureza viva e pulsante e de objetos cuja simbologia retrata
a alma da própria artista, os alunos embarcaram nessa viagem insólita ao
registro de um momento único recriado pela sensibilidade do olhar fotográfico
de Jaquelina.
Jaquelina Caldas Rolim de Oliveira, natural do
Crato-CE, massoterapeuta com baixa visão, é precursora na luta pela inclusão da
pessoa com deficiência visual na região do cariri cearense. Participou de um
curso de Fotografia Digital, promovido pelo SENAC do Crato – CE, e a partir de
então sua lente passou a retratar o mundo com muita luz, cor e poesia.
A jovem Sara Vieira Gonçalves, aluna do 9º ano do
Instituto Dr. Hélio Góes, foi uma das visitantes da exposição e afirmou que a
fotografia do ganso foi a que ela mais gostou. Segundo a estudante, ao tocar a
obra, sentir as formas e ouvir as descrições, ela reavivou a memória sobre como
é aquela ave. Sara perdeu a visão há quatro anos.
Breve descrição da imagem: fotografia de Sara
Gonçalves. Sara está em pé e de perfil diante de uma das fotografias fixadas na
parede de tons pastel. Sara é morena, tem cabelos castanhos, está usando a
blusa branca com verde da instituição e segura o mp4 com a mão esquerda e toca
a moldura preta com a mão direita.
Para Juliana Muniz, historiadora e produtora
cultural responsável pelo Projeto Multiacesso do Instituto CUCA, descobrir as dificuldades
em relação à acessibilidade cultural das pessoas com deficiência em Fortaleza
foi um grande desafio. Desde que assumiu a coordenação desse projeto, Juliana
tem realizado várias atividades com pessoas com deficiência visual, como é caso
dessa exposição, e afirmou que sempre se emociona ao realizar cada atividade. “Através
do toque, do sentido da audição e do recurso da imaginação”, os visitantes com
deficiência visual podem alcançar a fruição juntamente com os demais ao
visitarem exposições, completou Juliana.
A partir de uma rápida orientação sobre o manuseio
do aparelho mp4, os jovens com deficiência visual compreendem rapidamente a
dinâmica de mobilidade no espaço e a alternância entre as faixas de áudio sincronizadas
com o percurso do piso podotátil, seguindo assim com total autonomia pelo
espaço expositivo.
Para a produtora do CUCA, as iniciativas inclusivas
do Multiacesso têm sido importantes contribuições para sensibilizar a
sociedade, a cidade, os órgãos públicos, as instituições, o governo e a
secretaria de cultura sobre a importância de uma programação cultural com
recursos de acessibilidade para todos.
O projeto de audiodescrição foi elaborado e
executado pela Leão & Braga Audiodescritores Associados, que também
ofereceu uma consultoria em acessibilidade para a montagem da exposição.
Segundo Bruna Leão, sócia-diretora da empresa, os contornos em alto relevo
sobre os elementos principais de cada fotografia, destacados pela própria Jaquelina,
aliados às descrições das informações visuais foram extremamente importantes
para favorecer ao público com deficiência visual uma ampla compreensão das
obras da artista. Bruna ressaltou ainda a importância de os equipamentos
culturais oferecerem regularmente uma programação acessível para todos em
Fortaleza
Breve descrição da imagem: fotografia dos vários
jovens das duas instituições convidadas, visitando a exposição. Todos são vistos de costas e a maioria está em
pé e usando blusa branca com verde, do Instituto Dr. Hélio Góes, e azul, da E.E.F.M.
Instituto dos Cegos. Três rapazes estão sentados em um banquinho de madeira,
atrás da fila de visitação.
Essa exposição toca os nossos corações pela sensibilidade expressa e qualidade do trabalho das pessoas que a promoveram.
ResponderExcluirParabéns Jaquelina Rolim, Juliana e demais colaboradores do CUCA.
Klístenes, gostaria de agradecer pela divulgação e elogios a respeito da Exposição. Percebo os frutos que estão sendo colhidos através de matérias como essa. Fico linsojeada com mais esse registro de reconhecimento ao meu trabalho. Obrigada! Jaquelina Rolim
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