Por Mônica Lucas
As questões relacionadas à acessibilidade aos filmes de pessoas com deficiências visuais e auditivas acabam também entrando nessa pauta. Se as dublagens permitem uma melhor experiência ao primeiro grupo, excluem o segundo. Na opinião do crítico de cinema Pablo Villaça, para cegos e deficientes visuais, a melhor solução não é a dublagem, mas a áudio-descrição, que traz, além da dublagem, explicações sobre o que está acontecendo na tela.
Apesar de existirem alguns projetos em sessões especiais, ainda há pouco alcance, apoio e divulgação. Uma das raras iniciativas no Ceará é o Lead (Legendagem e AudioDescrição), grupo de estudo da Universidade Estadual (Uece), criado em 2008. A associação já realizou alguns trabalhos pagos, como a audiodescrição do vídeo coletivo "Fortaleza em Todos os Sentidos", da Vila das Artes.
Pablo Villaça acredita que "a simples dublagem é um obstáculo aos deficientes visuais, já que as distribuidoras podem alegar que já atendem a esta comunidade através do áudio em português, deixando de investir na produção de trilhas de áudio-descrição".
Se existe uma solução alternativa aos deficientes visuais, o mesmo não acontece com os deficientes auditivos que dependem das legendas para compreender o filme. "Todos os deficientes auditivos que eu conheço só vão ao cinema assistir a filmes legendados, pelo simples fato de que é impossível para nós entender o que é dito num filme dublado", diz a cientista social gaúcha Paula Pfeifer, deficiente auditiva desde a infância.
Ela, que também mantém o blog "Crônicas da Surdez", faz parte de um movimento coletivo que recolhe assinaturas para uma petição sobre o assunto.
O movimento "Dublado Sem Opção Não!" visa sensibilizar distribuidoras de cinema e emissoras de TV para que as legendas não sumam da programação. "Não vejo sentido nenhum em canais de TV ou cinemas que querem abolir as legendas. Para que tirar a acessibilidade de quem precisa?", questiona.
Nas mudanças do mercado, o problema da disponibilidade se mantem, mudando apenas a face da moeda. Se antigamente os espectadores que preferiam os filmes dublados é que reclamavam da falta de opções, hoje muitas vezes acontece o contrário. Na opinião de Pedro Butcher, editor do portal Filme B, distribuidoras e exibidores precisam chegar a um equilíbrio. "Não é justo que o espectador chegue a um complexo com seis salas, por exemplo, e todas estejam com filmes dublados. Ou legendados".
O pesquisador Fábio Freire concorda: "O importante é que ambas as opções estejam disponíveis. Eu jamais pago para ir ao cinema ver um filme dublado, mesmo que seja uma animação. Mas se uma pessoa prefere ver esse mesmo filme dublado, seja por preguiça de ler, por achar que as legendas atrapalham ou qualquer outro motivo, ela tem esse direito". Assim como acontece com os lançamentos em DVD, que vêm com as duas opções.
As expectativas recaem sobre a disseminação das facilidades tecnológicas do formato digital - principalmente considerando o fato de que muitas cidades dependem de apenas uma ou duas salas. Segundo Butcher, embora atrasado em relação a outros países, o processo de digitalização já está ocorrendo no Brasil.
Como os arquivos permitem que o exibidor opte por um formato ou outro, versões legendadas e dubladas do mesmo título poderão ser exibidas em horários distintos, atendendo a diferentes públicos, sem a necessidade de que se tenha mais uma cópia.
Matéria publicada no Caderno 3 do Diário do Nordeste em 09.04.2012.
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